José Sergio Fonseca de Carvalho


No dia 08 de outubro, José Sergio Fonseca de Carvalho (Zé Sergio) esteve com a equipe do Macu para falar sobre “A Peculiaridade do Ofício Docente. Anteriormente, o professor de Filosofia da Educação da USP já esteve conosco algumas vezes e sempre nos presenteou com suas inspiradoras observações e reflexões. Por isso, antecipamos a comemoração do Dia dos Professores, 15 de outubro, celebrando essa data de modo muito especial, sobre o que vamos falar um pouco neste artigo.

Por que peculiaridade?

José Sergio comentou cada termo do título que deu a sua fala e, portanto, a peculiaridade do ser professor em relação às demais profissões. Nesse sentido, ele evidenciou que mesmo as formações acadêmicas, como a Pedagogia ou as Licenciaturas, nos habilitam a dar aulas na área do curso escolhido, mas não nos tornam professores.

O professor só passa a existir a partir do momento em que se vincula a um grupo. Ou seja, tornar-se professor necessariamente significa participar de uma instituição. Pois é a sua contraparte, o aluno ou a aluna, o que faz o ser professor. Desse modo, assim como o ser ator ou atriz, o ser professor se faz na relação com o outro(a).

Por que ofício?

Para José Sergio, a noção de ofício se relaciona ao ser professor porque pressupõe um trabalho fundamentalmente artesanal. Sendo importante enfatizar que a artesania se distingue da produção de caráter industrial, que tem como finalidade a fabricação de produtos padronizados, idênticos uns aos outros.  

Dessa maneira, em educação, por sua vez, nem mesmo cabe falar em produto final, tendo em vista que a experiência formativa de cada aluno ou aluna pode ser totalmente diferente. Também nisso o ser ator ou atriz se aproxima do ser professor, já que durante a sua formação, o estudante de teatro pode se surpreender com o que esperava do curso ou até mesmo acabar se vinculando de outra forma à arte, que não pela atuação.  

Mas, dando continuidade a explicação sobre a artesania do professor, José Sergio citou um trecho de “O narrador”, de Walter Benjamin:

Além disso, a narrativa, que durante tanto tempo floresceu num meio de artesão – no campo, no mar e na cidade –, é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de transmissão. Ela não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma informação de um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso[1].

Distante dos ditames industriais de que se falou acima, um artesão não se separa do produto que fabrica e exprimi, nele, a sua singularidade. Nessa mesma linha, para Zé Sergio, como a mão do oleiro imprimi sua marca na argila, não só o narrador, mas também o professor imprimi uma marca em suas aulas. Contudo, de que ofício o professor Zé Sérgio fala?!

O ofício resumido em uma palavra: ensinar!

Dessa maneira, Zé Sergio enfatizou que o ofício de ensinar não significa – ou não deveria significar – apenas a transmissão de como as coisas são ou funcionam. Mas sim o ofício de revelar as razões pelas quais os professores acreditam que as coisas sejam ou funcionem de determinada maneira.

Além disso, Zé Sergio sugeriu muitos outros verbos pressupostos no ser professor e no ofício de ensinar. E acrescentou que, por isso, não cabe reduzi-lo a um facilitador, como às vezes se faz. Inclusive, porque, em certos momentos, o seu papel é mais o de dificultar, apontando problemas que antes não eram vistos.

Assim, ensinar é facilitar, mas também dificultar, apresentar, problematizar, entre muitos outros verbos. Ainda sobre o verbo ensinar, Zé Sergio explorou os seus complementos: alguém que ensina algo a alguém que aprende. E além disso, destacou que o êxito do ensino depende de uma interação muito complicada entre esses três elementos: quem ensina, o que ensina e para quem se ensina.

O que se ensina?

Dessa maneira, pode-se ensinar coisas importante, ainda que simples, como informações, datas, dados etc. Porém, nesse caso, Zé Sérgio chamou a atenção para o caráter descartável do professor. E isso porque transmissões desse tipo podem ser feita por muitos outros meios, quem dispensam a participação do “quem ensina”.

O que se mostra completamente diferente quando se trata de uma capacidade, como ler e escrever ou mesmo atuar, que ninguém aprende apenas com informações. O desenvolvimento dessas capacidades exige, acima de tudo, interação, alguém que acompanhe o processo de quem aprende.

Assim, para finalizar, Zé Sergio ainda citou uma outra forma de ensinar, que se dá pela relação que do professor com o seu ofício e com sua área do conhecimento. De que forma poderíamos, por exemplo, despertar o encantamento de nossos alunos e alunas pelo teatro ou pelo Sistema Stanislávski? Entre outras, pelo nosso próprio encantamento! E, além disso, nós somos encantados pelo que fazemos e pelo que ensinamos!

Entre em contato conosco para saber mais sobre nosso trabalho.


[1] BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 205.

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