Histórias importam. Muitas histórias importam. Histórias têm sido usadas para expropriar e ressaltar o mal. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar e humanizar. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida. Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso.

Chimamanda Adichie

O novo tema de investigação do Macu, que irá orientar os projetos de pesquisa e criação do 1° semestre de 2022, é Arte & Vida: O Sistema Stanislávski como Meio para Manter as Relações Vivas. Ele, além disso, dá continuidade a um ciclo investigativo iniciado ano passado, com o enunciado O Desejo Pela Vida – Olhar – Inspirar – Encantar – Caminhar.

Essa continuidade se faz de várias formas. Em primeiro lugar, ambos os temas têm como ponto de partida a nossa inspiração pedagógica: Konstantin Stanislávski. Além disso, em segundo lugar, porque Arte & Vida é proposto como um desdobramento das pesquisas em torno do documentário que leva o título que escolhemos como tema para as nossas investigações do 2º semestre de 2021: Stanislavsky. Lust for life (Stanislávski. O Desejo Pela Vida).

Enfim, por último, como se nota facilmente, os dois temas sugerem conexões entre arte e vida, ainda que com certas especificidades. No que se refere a tais conexões, elas têm sido reveladas, em grande parte, pela professora mestra Simone Shuba, pesquisadora da obra de Stanislávski e integrante do corpo docente do Macu.

Porque do tema?

Orientada pela professora doutora Elena Vássina (LETRA – USP), parceira de longa data da escola, Shuba escolheu a Memória Afetiva, elemento do Sistema Stanislávski, como objeto de seus atuais estudos. Logo, ela tem, portanto, procurado desbravar um campo de pesquisa que perpassa a diferenciação e a aproximação entre o real e o imaginário, bem como o sentido cotidiano, naturalizado, e o estético, ou seja, a vida e a arte.

Relação

Além das generosas partilhas da professora mestra Sinome Shuba, que têm instigado e fomentado o corpo docente do Macu, há questões inerentes ao modo como procuramos pensar os nossos temas de investigação. E, somadas à pesquisa de determinados elementos do Sistema Stanislávski, nossas proposições procuram colocar em questão a pedagogia, o teatro e o mundo em sociedade.

Nesse sentido, a ideia de “relação” especifica e aprofunda o tema deste semestre. Mas relação aqui não é entendida como comparação, tal qual na Aritmética, nem como correspondência entre termos, própria à Gramática. Sua concepção, para nós, se aproxima da Lógica, em que “relação” é a condição que liga pela igualdade, pela diferença ou pela equivalência.

Sendo assim, “pluralidade” é palavra recorrente em nosso projeto. E ela se apresenta não só como termo para o qual queremos, na prática, lançar luz, como na construção de nossas referências. E isso porque, de uma ideia primeira, o próprio projeto de investigação foi construído pela pluralidade que define o corpo docente do Macu.

Comunicação

A partir do enunciado Arte & Vida: O Sistema Stanislávski como Meio para Manter as Relações Vivas, estabelecemos uma questão para nos provocar: “Somos universais e singulares, como nos relacionamos na pluralidade existente entre o diretor-pedagogo, alunos, obra, papel, cena e o público?” Ou em outras palavras: “Como colocar a diversidade em ação na criação?”

Nesse processo de pesquisa, a Comunicação, elemento do Sistema Stanislávski, se mostra uma ferramenta valiosa. No entanto, como bem observado pelo mestre russo, ela deve ser primeiramente exercitada entre os parceiros de cena (ou de processo) antes mesmo de visar o público ao qual se dirige o espetáculo. Para tanto, o sentido a ser por nós trabalhado é a escuta ou a audição.

A fim de que nos comuniquemos com o outro visando de fato uma relação, esse sentido se faz primordial. Pois se a não escuta é um modo de apagamento das novas histórias, seu exercício, que se revela em uma audição aberta, atenta e continuadora, permite que essas mesmas histórias ganhem outros significados.

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