O Café Teatral do Macu, que completa doze anos de existência, recebeu As Meninas do Conto em novembro. Após uma breve interrupção nos encontros, devido à pandemia causada pela COVID-19, eles foram retomados de forma remota no 1º semestre de 2021. Essa “reestreia” aconteceu em maio e contou com a participação de Grace Passô e Lucienne Guedes. Portanto, o bate-papo com As Meninas do Conto marcou a segunda edição dessa ação tão significativa do Macu, realizada agora virtualmente.  

As Meninas do Conto

Formado em 1995, o grupo As Meninas do Conto nasce como um trabalho educativo realizado dentro do Projeto Planeta das Histórias da Editora Ática. Inicialmente, elas se concentravam na leitura de livros infantis a grupos de crianças divididas por faixas etária e voltada aos estudantes de escolas que visitavam a editora. As fundadoras do grupo, Kika Antunes e Simone Grande, assim iniciaram a história da companhia.

O próximo passo foi a participação no projeto Pão de Açúcar Kids, em que essa rede de supermercados dedicava um espaço à narração de histórias: a Sala do Conto. Dessa experiência, realizada em meados de 1998, nasceu o nome do grupo, já que todos e todas a elas se referiam como As Meninas do Conto.

A partir de então, o grupo ampliou os seus espaços de atuação, porém ainda se manteve centrado na narração. E passou a se apresentar no MAM – Museu de Arte Moderna – e em algumas livrarias. Até que, no início dos anos 2000, As Meninas do Conto decidiram unir a tradição oral à visualidade do teatro.

A pesquisa de linguagem

O primeiro espetáculo propriamente teatral de As Meninas do Conto foi A Princesa Jia, que estreou em 2002. Uma adaptação brasileira e popular de A bela e a fera, mas neste caso é Jia, uma sapa, que se descobre apaixonada. Atualmente, o grupo já acumula nove espetáculos e muitas histórias em seu repertório, além indicações e prêmios, como Coca-Cola FEMSA e APCA.  

Na conversa do Café Teatral, As Meninas do Conto narraram apaixonadamente a sua própria história e falaram sobre como passaram a explorar, em cena, o que antes exclusivamente narravam. Nesse sentido, elas revelaram a necessidade da combinação entre palavra, ação e música. E enfatizaram o papel fundamental que a pesquisa teve no desenvolvimento de uma linguagem própria.

Apresentando alguns aspectos específicos dessa linguagem, As Meninas do Conto citaram a ressignificação de adereços – quando um objeto se transforma em vários outros – e o brincar de ser várias – quando as atrizes se revezam entre as personagens. E também apontaram o importante papel da música, tomada em suas peças como parte da dramaturga, como texto, e não apenas como trilha sonora.

O acervo da memória oral

A relação com nosso tema de investigação do semestre – O Desejo Pela Vida – se fez presente no encantamento das histórias, entre elas, a do próprio grupo As Meninas do Conto. Mas, como não poderia deixar de ser, algumas narrativas permearam a fala das atrizes Simone Grande, Fernanda Raquel e Lilian de Lima, que participaram do bate-papo. Entre elas, o O baú de tesouros, dos irmãos Grimm, e um conto queniano sobre a importância das histórias.

Vale ainda dizer que, nessa transposição da palavra para a cena, algo que para elas não poderia se perder era o contato próximo com o público, que a narração de histórias pressupõe. Por outro lado, o humor sempre presente em suas criações, mesmo ao abordar assuntos mais densos, faz parte da linguagem singular investigada por As Meninas do Conto.

O encantamento, portanto, fez parte desse encontro em muitos sentidos. E isso porque o grupo As Meninas do Conto apresentou parte do acervo da memória oral de várias culturas através da palavra. E com isso, proporcionou aos participantes do Café Teatral do Macu, os conhecimentos partilhados pela própria narração de histórias, que se alinha as tradições orais mais ancestrais.

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