Desde março de 2020, em decorrência da pandemia causada pelo Covid-19, a equipe do Macu decidiu manter as aulas de teatro em outro formato: online. De acordo com uma preocupação coletiva, que marca também o fazer teatral, direção, coordenação e professores da escola optaram por colaborar com o afastamento social. Ao mesmo tempo, julgamos de extrema importância dar continuidade às aulas, até mesmo pensando na saúde física e mental de nossos alunos e alunas.

Este processo foi marcado por muitas discussões sobre as especificidades do teatro e o que o determina enquanto linguagem: o palco, a presença, as relações? E tendo em vista a complexidade e a riqueza dos debates travados por nós, o tema da próxima edição de nossa publicação semestral será este. Ou seja, o Caderno de Registro Macu 17 registrará a reflexão de alguns professores sobre as experiências das aulas online no Macu.

A aula de teatro presencial X online

Este número da nossa publicação ainda não foi lançado, o que acontecerá dentro em breve. Mas, ainda assim, tomamos aqui as falas de alguns professores, a fim de analisar como está sendo o nosso processo de aulas online.  Comecemos então pelas considerações do professor André Haidamus. Para ele, “não houve uma mudança drástica e repentina das nossas condições como artistas-pesquisadores na experiência de uma aula prática de teatro por uma plataforma de contato e presença online”.

Seu raciocínio se justifica pelo fato de que o fazer teatral e o espaço da aula de atuação é sempre inquietante e desafiador. Seja na escola ou em casa. Pois as angústias vividas e a beleza das descobertas geradas no percurso de criação não se alteram com a mudança de formato das aulas. Mas as conclusões de Haidamus tem um fundamento mais amplo: “a essência do Sistema Stanislávski”. Já que, tomando novamente de suas palavras: “o Sistema Stanislávski tem princípios de criação fluentes, que estão em movimento e em relação ao tempo presente”.

A experiência viva do teatro online

Alinhada ao professor Haidamus, a professora Simone Shuba destaca algo muito importante das aulas online em relação a Stanislávski. Shuba, que é uma grande pesquisadora das teorias e práticas stanislvaskianas, sempre evidência o processo da experiência vivenciada no momento presente da atuação. Este processo é também conhecido como a “experiência do vivo ou do vivido”. 

Sua especificidade reside no fato de se contrapor ao teatro da representação ou da imitação. E por se configurar, assim, como uma forma de se escapar aos clichês da atuação. Alcançar este objetivo exige muito trabalho, pois a ideia de ensejar uma experiência em que estejamos vivos(as) requer bastante esforço. 

Neste sentido, Shuba comenta sobre as aulas online: “Era o vivo de uma experiência nova.” Esta observação tem relação direta com as adaptações que foram necessárias e que se referem, principalmente, aos múltiplos espaços que a sala de aula ganhou. Pois os quartos, as salas, as casas dos aulos e alunas passaram a ser espaços de criação e de estímulo à imaginação. Assim, Shuba acrescenta: “O real se tornou poético, o imaginário expressivo e, com esta conexão, o virtual que de início era insipiente e frio, se tornou vivo”.

Desta forma, podemos hoje responder à pergunta: Como estão sendo as aulas online de teatro no Macu? Pensando no objetivo formativo de nossos alunos e alunas, elas estão sendo iguais ao presencial. Pois, se há perdas, há também ganhos, como em tudo que é novo. Mas tudo o que é novo também possibilita a geração do que é vivo. Por isso, já estamos planejando a volta ao presencial para o próximo semestre, conforme as deliberações das instituições responsáveis. Mas, de uma coisa temos certeza, este formato veio para ficar! 

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