Realizada entre os dias 26 e 30 de janeiro, a Semana de Planejamento do Macu contou com as participações de Tatiana Mota Lima e Renato Nogueira. Os convidados buscaram contribuir para o tema de investigação do 1º semestre: O sistema de Stanislávski — Raízes e Descendências. De diferentes perspectivas, eles refletiram sobre um dos tópicos suscitados pelo tema, a ancestralidade.

Tatiana Motta Lima é professora associada da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e diretora dos coletivos Hanimais Hestranhos e Laboratório de Inutilezas. Participante do grupo CRIA: artes e transversalidade e do Artes do Movimento, ambos do CNPq, é também membro do CLAP — Centro Latino-Americano de Pesquisa Stanislávski.

Renato Noguera é doutor em Filosofia e possui formação familiar griot. Entre outros, publicou os livros Por Que Amamos (HarperCollins, 2020) e O Ensino de Filosofia e a Lei 10 639 (Pallas, 2014). Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), coordena o Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin).

Ancestralidade ou um antigo que nos acompanha e convoca

Pesquisadora do legado de Stanislávski vinculado à tradição grotowskiana, Tatiana Mota Lima falou sobre o sentido da ancestralidade em Grotowski. Para tanto, ela começou enfatizando que para o teatrólogo polonês, a criação era um meio de se envolver de forma mais profunda com o mundo.

A criação em si, seria então um modo de reconexão com a ancestralidade e de aprendizado com os antepassados. Nesse sentido, a ancestralidade não se configura como a recuperação pura e simples de uma realidade ultrapassada, mas como o encontro com as forças às quais nos vinculamos.

Estabelece-se, assim, uma relação ativa com a tradição, a qual permite nos confrontarmos com nossas fontes de origem. Por isso, o trabalho sobre a ancestralidade traria à tona as forças que pulsam no presente e que têm ligação com o passado.

Esse modo de se relacionar com o “antigo”, segundo Tatiana Mota Lima, é uma forma de libertar o ator ou a atriz de seu ego. Posto que essa concepção de ancestralidade, que nos acompanha e convoca, permitiria transcender o individualismo cultivado pelo sistema neoliberal.

 Planejamento do Macu: Cenas Contra Coloniais

Também enfocando a ancestralidade, Renato Noguera construiu sua argumentação a partir da perspectiva contra colonial. Enquanto o decolonial, termo já hoje consolidado, faz sua contraposição à colonialidade, o contra colonial volta-se criticamente ao colonialismo.

O contra- colonialismo trabalha, portanto, com o conjunto de ações políticas, militares e econômicas que visam conquistar e explorar uma região ou povo. E, tendo em vista tais circunstâncias, Noguera apresentou duas possibilidades de organização do mundo. 

Uma dessas possibilidades seria a cosmofílica, uma forma afetuosa e acolhedora, e, a outra, cosmofóbica, hostil à vida. Desse ponto de vista, o pesquisador ainda expôs como as artes, e particularmente o teatro, podem contribuir para a articulação ou desarticulação desses mundos.

Em defesa, obviamente, da forma cosmofílica, Renato Noguera mostrou como certos autores empenharam-se na criação de circuitos afetivos e como esses chegaram até nós. O que lhe permitiu exemplificar como as artes podem desempenhar um importante papel para o desenvolvimento da humanidade.

Como se nota, ambos os convidados chamaram a atenção para a função social do teatro, ao refletir a maneira como nos relacionarmos com o mundo. E, como isso, despertaram em nós, professores e professoras do Macu, muitos questionamentos, que serão agora fomentados pelos alunos e alunas em sala de aula!

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