A turma noturna de PA2 da Unidade Barra Funda coordenada pela professora Renata Kamla iniciou suas pesquisas do semestre pelo atual tema de investigação do Macu . Nesse sentido, duas provocações ajudaram a orientar esse caminho de estudo e a encaminhar as próximas ações do coletivo.  

Uma delas foi a peça Sem palavras, da Companhia Brasileira de Teatro, dirigida por Marcio Abreu, a que alunos e alunas da turma assistiram. Já a outra provocação foi a conversa atrizes travestis Viní e Vitória, tratada no artigo Arte & Vida e o encontro com as Irmãs Brasil.

A Supertarefa do coletivo

Na ocasião do bate-papo com Viní e Vitória, o professor e organizador do encontro André Haidamus lançou uma questão para os presentes: “O que minha existência diz?” Essa provocação ecoou intensamente na turma coordenada pela professora Renata Kamla, que a transformou em um estudo prático.

Por meio desse estudo, uma ideia se despontou:  falar a respeito de quem se é e da opressão para assumir as próprias identidades. Enquanto Supertarefa do coletivo, esse enunciado levou a professora Renata Kamla aos contos publicados em Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu.

Escrito em 1982, o livro é considerado a obra-prima do autor pela crítica literária. Além do estilo visceral de Caio Fernando Abreu, a obra revela os anseios do país pela redemocratização após 21 longos anos de repressão ditatorial.

Logo, os contos de Abreu abordam a solidão, a dor e o sofrimento do homem em uma sociedade de preconceitos e medos. Enquanto os conflitos existencias e a incessante busca do próprio “eu” são fortes traços das narrativas de Morangos mofados.

O bate-papo com Celso Curi

Ao apresentar esse material criativo para a turma, Renata Kamla soube que um dos alunos, Vinícius Britto, conhecia Celso Curi pessoalmente. Foi então quando o convidaram para o bate-papo, a fim de se aproximarem do autor Caio Fernando Abreu.

O crítico de teatro, diretor teatral e jornalista Celso Curi foi amigo e namorado de Caio Fernando Abreu. E, como o autor, viveu os anos de chumbo de ditadura e o início da Aids no Brasil. Portanto, a conversa baseou-se na sua história de vida, permeada pelos fatores sociais, políticos e culturais da época.

Com seus 71 anos, Celso Curi falou da ausência de liberdade para os homossexuais durante o governo militar. E também comentou sobre a postura preconceituosa dos gays em relação às travestis. O que enfatizou a importância da ocupação dos espaços civis por essas pessoas nos dias atuais.

As interrelações entre Arte & Vida

Em relação ao COVID-19, Celso Curi pontuou que o HIV foi vinculado especificamente a uma “peste gay”.  Ou seja, que foi considerada uma doença para matar, punir e castigar, pois o sexo era visto como algo sujo, feio e promiscuo. Por isso ainda, as pessoas sentiam muito medo de falar que tinham AIDS ou que conheciam alguém com HIV.

Como se vê, a conversa passeou por assuntos como: ditadura, sexualidade, repressão e AIDS. Além de uma aula sobre o teatro brasileiro e suas referências, foi uma partilha sobre a nossa própria história, as raízes de alguns de nossos preconceitos e uma lição urgente de transformação.

Mais uma vez, foram as investigações em torno do enunciado Arte & Vida: O Sistema Stanislávski como Meio para Manter as Relações Vivas que geraram esse encontro. Consequentemente, esse é outro exemplo de como os temas do Macu são escolhidos e planejados de modo a provocar as pesquisas em torno de um fazer teatral livre e comprometido eticamente.

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